Os perigos da bola...
Numa altura em que a febre pela bola aumenta proporcionalmente com a aproximacao do mundial de futebol, encontrei um artigo no DN que me parece bastante interessante...
Provocação sem bola
Alfredo Barroso
Custa-me engolir o desprezo a que são votadas outras modalidades em Portugal. Sobretudo custa-me a perceber esta insólita associação entre patriotismo e publicidade no futebol
Então e a judoca Telma Monteiro - que conquistou há cinco dias, na Finlândia, o título de campeã da Europa - não merecerá patrióticas bandeirinhas nacionais hasteadas em tudo o que é sítio, desde as janelas dos prédios aos tejadilhos dos táxis, passando por portas de mercearias e supermercados, átrios de centros comerciais, bombas de gasolina, cartazes publicitários e ecrãs de televisão?! E haverá 15 mil mulheres dispostas a formar uma nova bandeira humana para homenagear uma jovem atleta de alta competição, com apenas 20 anos, que já arrebatou duas medalhas de ouro, uma de prata e cinco de bronze em campeonatos europeus e mundiais de juniores, de sub-23 e de seniores - e que, neste momento, lidera o ranking mundial de judo na sua categoria (- 52 kg)?!Estas perguntas são uma provocação, bem sei.
O judo não é um desporto popular e mediático que atraia as massas (tanto em sentido próprio como figurado) e mereça um investimento "patriótico" das televisões, da banca, do petróleo, da cerveja sem álcool e de empresas nacionais e multinacionais de refrigerantes e de artigos desportivos. Quem é que quer ouvir falar em ippon, yuko, waza-ari ou koka, quando o orgulho da pátria se traduz em off sides, corners, penalties, dribles, fintas, pontapés na bola e golos? E quem é que já ouviu falar do Centro Cultural e Desportivo Construções Norte-Sul, o clube de Almada que a Telma Monteiro representa? Mais: quem é que imagina os sacrifícios que esta jovem atleta olímpica de alta competição tem de fazer e as dificuldades em angariar patrocínios, apesar do notabilíssimo currículo desportivo que ela ostenta?!
É muito mais fácil e mediático encher as primeiras páginas dos jornais e abrir os telejornais com as derrotas, humilhações e fiascos das selecções nacionais de futebol - tanto a principal (Mundial 2002) como a olímpica (Olimpíadas 2004) como, agora, a de sub-21 (Euro 2006) - do que com o feito, inédito, da primeira portuguesa a conquistar o título de campeã europeia de judo. Falo desta modalidade desportiva bastante exigente, quer em termos físicos e psicológicos quer em termos técnicos e tácticos, como poderia falar de outras modalidades desportivas em que Portugal já teve magníficos praticantes, como o atletismo, hoje sem infra-estruturas físicas que permitam o treino adequado (em Lisboa, quase só resta o Estádio Universitário).
Não me espanta, por isso, o lamento do velho professor Eduardo Cunha (tem 80 anos e ainda treina): "Tenho medo de verdade que Portugal seja campeão mundial de futebol. Porque aí é que acaba tudo!"Gosto muito de futebol, percebo que ele seja um poderoso factor de identidade e ficaria radiante se os nossos "pés da Pátria" conquistassem o título mundial. Mas custa-me a engolir o desprezo a que são votadas outras modalidades desportivas em Portugal. Sobretudo custa-me a perceber esta insólita associação entre patriotismo e publicidade no futebol. Nunca fui marxista, leninista, maoísta ou trotskista, mas não tenho a menor dúvida de que o capital não tem pátria. É tão evidente como o jogo de futebol!
1 Comments:
Olá lindos, acabei de mandar um mail para vocês, preciso de resposta o quanto antes. É sobre o dentista para a Je... lol
Jinhosss
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